Fico ou vou embora? A difícil decisão dos pastores em relação ao campo

por Valdeci Santos

A mudança de campo é uma realidade frequente no ministério pastoral. O segundo semestre de cada ano é geralmente marcado pela tomada de decisões sobre esse assunto. No entanto, ainda que comum, a realidade da mudança não é fácil, nem para o pastor nem para o rebanho. Por isso, essa questão é tão espinhosa, gerando até ansiedade em muitos servos do Senhor. Mas por que os pastores mudam de igreja? Há várias razões para isso. Algumas vezes, o pastor
busca novos desafios: sair de um campo pequeno para outro com mais recursos ou visibilidade. Mas também existem os movimentos inversos: a mudança de uma grande igreja para o cuidado de um rebanho menor. Além disso, há razões
práticas: proximidade de familiares idosos, filhos em fase universitária, melhores condições financeiras, entre outras. Todos esses fatores são legítimos e devem ser
considerados.

Antes, porém, de tomar qualquer decisão, é necessário que o pastor dedique tempo à oração e ao autoexame. Para esse autoexame tão importante, algumas perguntaschave precisam ser consideradas. Há tempos li um artigo de Chris
Colvin, pesquisador cristão voltado à liderança pastoral (Influence Magazine, 2020) que me ajudou bastante sobre essa questão. Em seu trabalho, Chris sugere que o pastor reflita sobre as seguintes perguntas antes de tomar uma decisão final sobre mudança de campo.

🔵1. Estou sendo liberado por Deus
deste campo?

Antes de decidir sair, o pastor precisa ter clara convicção de que seu tempo naquele campo se encerrou. Isso envolve oração sincera, sensibilidade à direção do Espírito e avaliação do ministério realizado. A paz interior no coração, somada
à confirmação por parte de cristãos sábios e maduros, pode trazer confiança de que chegou a hora de partir. Todavia, se o pastor ainda se sente “preso” emocional ou ministerialmente ao campo, talvez seja cedo para deixar o rebanho.

O ministro deve se perguntar: cumpri a missão para a qual fui chamado nesta igreja? É possível que Deus deseje que outro pastor conclua a obra, mas também pode ser que a hora da partida ainda não tenha chegado. Caso existam frustrações por metas não alcançadas, é necessário refletir se o problema
não está em suas expectativas ou nos sonhos da liderança. Nesses casos, repensar e adaptar a abordagem ministerial pode renovar a disposição para continuar.

🔵2. Como essa mudança afetará
minha família?

Embora a família talvez não seja o motivo principal da mudança, a verdade é que ela será profundamente impactada por isso. Assim, considerar os efeitos sobre a família é essencial na tomada dessa decisão.

Comece com sua esposa. Quais são os sonhos dela que serão adiados ou alterados com a mudança de campo? Como isso afetará o trabalho dela (na vida profissional ou nas atividades na igreja), suas amizades e rotina diária? Além disso, se o pastor tem filhos em idade escolar, a realidade deles também precisará ser considerada. Uma troca de cidade pode influenciar estudos, atividades esportivas, amizades, adaptação na igreja e até a espiritualidade. Nossa vocação ministerial traz grandes implicações para nossa família e, por isso, essa é uma dimensão essencial em nossas decisões.

🔵 3. Quais são os verdadeiros motivos da minha saída?

Muitas vezes, afirmamos estar saindo por uma razão, mas existem fatores mais profundos que não admitimos de imediato. Por isso, é fundamental uma investigação honesta das motivações do coração. Uma prática útil é o pastor elaborar uma lista dos principais motivos que o fazem querer sair. Nessa
lista, haveria questões que poderiam ser resolvidas com mais diálogo, paciência ou esforço? A busca por uma solução pode resultar em crescimento mútuo, à semelhança da exortação de Paulo a Evódia e Síntique (Filipenses 4).

Nossas motivações nem sempre estão claras para nós mesmos. Pessoalmente, tenho aprendido com o Rev. Francisco Leonardo Schalkwijk que há “motivos diurnos” e “motivos noturnos”. O mais difícil é discernir quais deles estão dominando nossas decisões.

🔵 4. Estou fugindo de algo ou sendo chamado para algo?

Depois de refletir sobre os pontos anteriores, resta uma última pergunta fundamental: estou fugindo de algo ou estou sendo chamado para algo? Essa distinção é decisiva. Quando a motivação principal é escapar de conflitos, críticas, pressões financeiras ou dificuldades ministeriais, o risco é apenas transferir o problema para outro contexto. A fuga raramente resolve a questão, pois muitas vezes carregamos conosco as mesmas fragilidades não tratadas. Assim, mudar de
campo pode se tornar apenas uma forma de adiar o enfrentamento necessário, em vez de promover crescimento pessoal e ministerial.

Por outro lado, há momentos em que a mudança não nasce da fuga, mas de um chamado positivo e claro de Deus. Trata-se de perceber que o Senhor abre portas em outro lugar, com novos desafios e possibilidades de serviço. Esse chamado
gera esperança, entusiasmo, senso de propósito renovado e até confirmações externas de irmãos da fé. O coração, em vez de se sentir aliviado apenas por “sair de um problema”, se alegra por “entrar em uma missão”. Isso é o que vemos
no exemplo de Paulo, que não apenas evitava perseguições quando necessário, mas sobretudo seguia a clara direção do Espírito para novos campos (Atos 16.6-10).

Portanto, antes de mudar, o pastor precisa discernir: estou correndo para longe de algo que me incomoda ou caminhando em direção a algo que Deus preparou? Essa avaliação honesta pode evitar arrependimentos e assegurar que a transição ministerial seja caracterizada pela paz e bênção do Senhor. Nos próximos meses, alguns pastores considerarão conversar com amigos à procura de campo, pesquisar igrejas em busca de pastores ou até interromper as atividades ministeriais por um tempo. Não há qualquer problema em tudo isso, desde que os motivos estejam corretos. Por isso, querido pastor, antes de decidir se deve ficar ou partir, ore, examine seu coração, escute sua família e avalie a realidade ao redor. Depois, com temor de Deus e maturidade pastoral, dê
o passo para o qual o Senhor o direcionar.

Valdeci Santos é pastor da IP
de Campo Belo, SP, Diretor do Andrew Jumper
.

FONTE: Jornal Brasil Presbiterino, ano 67 nº 850, setembro 2025.

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