Os Pastores do Deserto

por Ensinamentos da Torá

A cultura pastoral era intimamente interligada com o estilo de vida bíblico desde Abel até o nascimento de Jesus. A terra prometida, “a terra que mana leite e mel”, era uma terra onde o pastor e o fazendeiro estavam em uma relação cooperativa cuidadosamente orquestrada, e, às vezes, delicada. As áreas cultivadas de Israel precisavam ser fertilizadas com adubo, mas elas só podiam servir de pasto depois da colheita. Em boa parte do ano, o pastor se encontrava restrito aos vastos desertos de Israel.

Os egípcios tinham uma visão particulamente negativa dos pastores, que eram claramente de uma esfera social inferior em relação aos fazendeiros (veja Gn 46:34). Por causa disso, a cultura pastoral influenciou os símbolos bíblicos do líder ideal, do rei ideal e do Messias, até mesmo de Deus¹.

Abraão foi provavelmente um pastor seminômade, que se estabelecia perto de cidades ou vilas, em vez de ser completamente nômade. A maior parte do pastoreio na Bíblia era intimamente ligado à economia saudável e a sobrevivência da vila. Alguns pastores criavam ovelhas para os seus vizinhos da vila, além de pastorear seus próprios rebanhos. Os pastores precisavam ter habilidade em criar e proteger as ovelhas e os carneiros (veja 1Sm 17:34-36), encontrar água e pastagens, ordenhar, fazer queijo, tosquiar a lã das ovelhas (veja 1Sm 25:32), reunir rebanhos em apriscos à noite e negociar os limites do terreno com outros pastores (veja Gn 13). O pastor poderia passar dias ou semanas longe da vila, especialmente durante os meses do ano em que era difícil achar pastagens. Não havia dias de folga, e geralmente o rebanho era liderado pelo mais jovem da família (veja Gn 29:9; 1Sm 16:11; 17:15). De acordo com fontes mesopotâmicas, para maximizar a fertilidade, o rebanho ideal tinha de se compor de 38 animais.² Havia uma proporção típica de ovelhas com relação aos bodes de dois para um. As ovelhas consumiam toda a pastagam, por isso tinham tendência de pastar bastante. Ao misturar o rebanho, as ovelhas seguiam os bodes andarilhos, causando menos estrago aos pastos.

Garganta no deserto Judean Midbar Yehuda no mar inoperante, Israel.

O midbar (hebraico) era o deserto menos inóspito mencionado na Bíblia e é, às vezes, traduzido por “ermo”. Ele era mais adequado ao pastoreio do que outros tipos de deserto (veja 1Sm 17.28). As condições do midbar variavam a cada ano e a cada mês, com o midbar normalmente recebendo entre 10 e 35 cm de chuvas de inverno por ano.³ Durante um inverno chuvoso, os desertos do Neguebe, da Judeia e de Samaria ficavam cobertos de pastos verdejantes. Em períodos de seca, as encostas do norte e do oeste recebiam umidade suficiente dos ventos do Mediterrâneo para uma leve camada de vegetação. À procura de pastagens, os pastores geralmente se aventuravam pelos desertos mais inóspitos do vale do jordão ou do sul do Neguebe rumo à peninsula do Sinai. Encontrar pastos no fundo dos uádis (palavra árabe para leito seco de rio) ou em encostas esquecidas era uma tarefa de tempo integral para o pastor durante os meses da estação seca.

O rebanho podia viajar dois ou três dias sem água, ou um pouco mais de tempo com uma boa pastagem. Garantir o suprimento de água era a parte mais complicada do trabalho de um pastor. Não era fácil achar fontes naturais, e os poços geralmente eram partilhados com os habitantes das vilas e com outros pastores (veja Gn29:10; Êx 2.15-19). O pastor podia achar água no fundo dos uádis logo depois de as chuvas de estação formarem poças; no entanto, as enchentes do deserto poderiam matar todo o rebanho (veja Sl 124.1-5). Os pastores geralmente cavavam cisternas e reservatórios para reter a água das enchentes que poderiam posteriormente ser usadas durante os meses secos (veja 2Cr 26.10). Encontrar águas seguras e constantes era o pensamento permanente de um pastor da Antiguidade.

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¹Por exmplo: Nm 27.17; 1Rs 22.17; Sl 23; 78. 52-55, 70-72; 80.1; Is 40.11; Ez 34; Mq 5.2-5; Zc 11.4-17; Mt 10.6; 18.12-14; Jo 10.1-30; Hb 13.20.
²Mattews e Benjamin, Social World of Ancient Israel, p. 57.
³Hareuveni, Desert and Shepherd, p. 49-50.

Kent Dobson é ex-pastor docente da Igreja Bíblica Mars Hill em Grand Rapids, Michigan, onde inicialmente serviu como diretor de louvor. Ele também foi professor de religião, estudioso e apareceu em programas bíblicos do History Channel e do Discovery Channel. Kent viveu e estudou em Israel, o que expandiu o seu mundo e ajudou a desvendar partes da sua fé. Atualmente, ele lidera retiros e programas na natureza destinados a cultivar a totalidade humana e a buscar as questões perenes da alma. Ele também orienta aventuras de peregrinação a Israel e ocasionalmente dá palestras e palestras. Kent mora em Ada, Michigan, com sua esposa e três filhos.

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